segunda-feira, 15 de agosto de 2016

DESTINO

DESTINO
O lixo permanecia ali, fermentando, remoendo, esparramado.
Sua estrutura desarrumada criava seu corpo. Mas, estava sempre renovando-se, vestindo-se de novo. Decoração rebuscada, barroca.
Em sua diversidade, mantinha, entretanto, sua personalidade.
-Olha lá o lixo! - dizia alguém.
Assim, o lixo tinha existência na vida. Era reconhecido, respeitado, temido - O que sairá dali?
O lixo não era o fim da vida, mas o seu recomeço. Ele parecia demonstrar que a vida não tem fim. O lixo nunca era o fim. Dali a vida recomeçava, organizava-se novamente.
O lixo era uma usina a germinar vida!
Ratos, vermes, pés humanos, todos brotavam do lixo. E, o lixo, envaidecido, sorria sarcasticamente para os homens.
-Eu te aguardo! Eu te aguardo!
Nele, o que era enterrado era o orgulho, a prepotência e o conservadorismo.
Assim, o lixo mostrava sua força viva, seu poder e seu acolhimento. Isso! O lixo nunca era preconceituoso, discriminador. O lixo era democrático.
Para ele não existia diferença entre o pobre e o rico. Todos eram futuros lixos. Ele estava ali, paciente, mas voraz.
Tinha uma estética diferente, exótica, livre. O lixo era livre, franco, aberto. Porém, implacável.
Era também sensível, mutante e eclético. Ele não consumia os homens, não destruía a vida, não acabava com a beleza. Antes, o lixo ressuscitava os homens, aninhava vida, criava nova ética, novas formas.
Sua existência era como um aviso bondoso: a esperança existe! Basta ir fundo!
Hideraldo Montenegro

sábado, 12 de dezembro de 2015

HUMANO CANTO poesias





INSPIRAÇÃO

No apertado das horas
escrevo poemas largos
com palavras e fitas

Poemas emendados
Poemas-chitas

Colo todas as palavras
que sobrevoam
rápidas
sobre o papel
como se fossem listas
sem discriminar nem a que me agita

 Hideraldo Montenegro

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AMEAÇA AO REI romance









O TABULEIRO

  

B
ispo 6, casa do rei. Sequer pensou. Fez a jogada automaticamente. Estava reclinado sobre o tabuleiro, com os óculos na ponta do nariz, a barba para fazer, os cabelos despenteados e precisando de uma boa lavada. Era um ateu que desprezava os bens materiais. Ou seja, era um materialista que não dava importância à matéria. O mero consumismo, para ele, era uma agressão ao espírito humano.

Jogou e permaneceu na mesma posição com a mão direita no ar, como uma fera que está atocaiando a presa, esperando a minha próxima jogada. Fiquei indignado. Afinal, havia levado dez minutos pensando em minha jogada. Perdi o interesse.

Já não estava mais ali. Meus pensamentos começaram a divagar. Para variar, Helena ocupou a minha mente. Aliás, bastava ficar quieto e ela surgia para mim como um fantasma. Todas as horas em que aparecia algum espaço Helena ocupava a minha mente. Não eram pensamentos dos mais elaborados. A sua imagem me aparecia desnudando-se. Ah, o desejo! Era tomado completamente!...

Hideraldo Montenegro

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INDECIFRÁVEL poemas




ETERNAMENTE

Naquele espaço
em que o pensamento se alonga
sou do tamanho do meu silêncio
Vazio é um estado
cheio de alma e coisas postas
sem formas, odores e cores
mas, brilham mais
intensamente
O ser em silêncio
elimina o tempo
Todas as portas existem
para serem abertas ou fechadas
Abro a minha paisagem
passagem
pra além do agora

Hideraldo Montenegro

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