sábado, 12 de dezembro de 2015

O ESPELHO DE ALICE contos

DESTINO

                        


                                                      
O
lixo permanecia ali, fermentando, remoendo, esparramado.

Sua estrutura desarrumada criava seu corpo. Mas, estava sempre renovando-se, vestindo-se de novo. Decoração rebuscada, barroca.

Em sua diversidade, mantinha, entretanto, sua personalidade.

-Olha lá o lixo! - dizia alguém.

Assim, o lixo tinha existência na vida. Era reconhecido, respeitado, temido - O que sairá dali?

O lixo não era o fim da vida, mas o seu recomeço. Ele parecia demonstrar que a vida não tem fim. O lixo nunca era o fim. Dali a vida recomeçava, organizava-se novamente.

O lixo era uma usina a germinar vida!

Ratos, vermes, pés humanos, todos brotavam do lixo. E, o lixo, envaidecido, sorria sarcasticamente para os homens.

-Eu te aguardo! Eu te aguardo!

Nele, o que era enterrado era o orgulho, a prepotência e o conservadorismo.

Assim, o lixo mostrava sua força viva, seu poder e seu acolhimento. Isso! O lixo nunca era preconceituoso, discriminador. O lixo era democrático.

Para ele não existia diferença entre o pobre e o rico. Todos eram futuros lixos. Ele estava ali, paciente, mas voraz.

Tinha uma estética diferente, exótica, livre. O lixo era livre, franco, aberto. Porém, implacável.

Era também sensível, mutante e eclético. Ele não consumia os homens, não destruía a vida, não acabava com a beleza. Antes, o lixo ressuscitava os homens, aninhava vida, criava nova ética, novas formas.

Sua existência era como um aviso bondoso: a esperança existe! Basta ir fundo!

Hideraldo Montenegro

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